quarta-feira, 11 de abril de 2012

Aprendendo a sair dessa nostalgia

ㅤㅤSem sombras de dúvidas naquele mundo não havia ninguém mais desordenado que aquela garota mandona. Até mesmo sua mãe a criticava: “Desse jeito Ana, ninguém vai te agüentar”. Suas amigas reclamavam um bocado, todos os dias. Mas ele, ele, bem... Ele nada criticava, ela era perfeita aos olhos caramelados dele. E ele, perfeito aos achocolatadinhos dela. Assim que ele chamava os pequenos olhos de Ana.

ㅤㅤOntem foi o dia em que Ana resolveu sair às compras. Aquelas mesmas roupas de sempre – questionava. Bem, realmente eram as mesmas roupas de sempre. Principalmente o vestidinho de pano leve e flores pequenas por todas as partes, bordados trabalhados na cor lilás. Ana tinha os cabelos claros, muito claros. A pele tão branca e a boca sem cor alguma. O pai nunca a deixara passar batom, por mais claro que fosse e sua boca nunca se destacava. Porém, era o desenho mais bem feito. Carnuda, linda e saborosa como ele a dizia todos os dias. Ela não se resolvia nunca, não achava o tamanho certo quando gostava e quando achava o tamanho certo não gostava. Tinha que ser um presente dele. Ela só iria gostar se fosse dado por ele! As roupas mais usadas de Ana foram dadas por ele. Só assim ela gostava e usava alguma coisa. Caso contrário ficava em casa com o mesmo pijama de 5 anos atrás.

– Ora, tenho 17 anos Mãe, não cresço mais que isso, não engordarei mais que isso, não mudarei meu número. Será este mesmo, eu me lembro que ele sempre disse que esse era o pijama mais charmoso de todo o mundo e será esse sempre.
– Entendo querida, mas por que não surpreender?
– Surpreender, Mãe?

ㅤㅤAna passou a tarde toda pensando em como seria “surpreender” achou interessante realmente arrumar as malas ir para a casa d’Ele e na hora de se trocar para uma soneca com muitos beijos, vestir um pijama novo, com sabor de surpresa. Mas e se ele gostasse tanto do meu velho pijama que sentiria falta de um eu meu velho que se perdeu, foi jogado por detrás? Se ela perguntasse também não haveria surpresa alguma! Até que o telefone tocou, e Ana como sempre gostava de colocar toques diferentes para cada pessoa diferente. Então a música mais adorada por ela era a que acompanhava ao vibrar do celular pequeno e rosa, muito rosa. Era ele, ela sorriu.

– Alô?
– Ana! – suspirou. Eu estava pensando em sairmos juntos hoje à noite. Fiquei sabendo que comprou uma roupa nova. Que tal estréia-la pela primeira vez comigo? Tenho certeza de que estará linda!
– Sim. É... Adoraria sair hoje à noite com você usando uma roupa nova. Mas eu, não comprei nada.
– Não? Por quê? Mas não tem problema, aceita?
– Vou estar horrível.

ㅤㅤE assim Ana desligou o celular. Não sabia se estava triste, nervosa, ou simplesmente não se importava com a situação. De qualquer forma pensou que ele gostaria que ela estivesse com a roupa nova. Porque afinal de contas, ela era sempre a mesma com seu vestidinho lilás bordado e velho. Ele, que estava na casa de sua mãe pegou seu carro e foi até o condomínio de Ana. Hoje, era o dia em que o condomínio festejava por ter completado 10 anos! Havia karaokê, muita comida, todas as suas amigas vizinhas estavam lá, Ana ajudou a comprar várias coisas, porém não quis participar da festa que por direito também era dela. Dizia que não tinha o que vestir e completava: só alguns trapos que servem de conforto ao meu corpo cansado.

ㅤㅤAo caminho à casa de Ana, parou em três lugares, que vocês e ela só vão descobrir mais tarde. Agora vamos, porque a história é contínua.
Por fim saiu dos lugares e chegou ao condomínio de Ana de mãos vazias.

Toc, toc, toc

ㅤㅤJá mencionei a extrema preguiça que Ana tem de receber seus convidados? Não gosta de abrir a porta e ter de atender alguém, principalmente amigos de seus pais. Sempre tem de dizer “Por favor, entre. Aceitaria alguma coisa? Chá? Café? Ou até mesmo Água? Sente-se aqui.” Palavras de sempre são mesmo irritantes. Mas mesmo não gostando abaixou o som da televisão levantou-se e foi em direção à porta.

– Realmente não me esperava aqui, estou certo?
– Completamente.
– Ao menos posso entrar?
– Ah me desculpe, claro que sim, aceita alguma coisa?
– Um café apenas.
– Eu não fiz café hoje, sinto muito, não farei agora.
– Por favor?
– Você sabe como manipular uma pessoa, não me olhe assim!

ㅤㅤEle coçou os olhos levemente até ficarem avermelhados, fez um bico adorável e entristecido, encheu os olhos d’água sentimentais.
– Você pode parar agora? Sente-se. Eu já volto.
ㅤㅤEle sorriu e mandou um beijo delicadamente. Esperou até a sombra de Ana desaparecer e saiu. Foi até o porta malas do carro e pegou os presentes que havia comprado para Ana. Se quiserem posso contar-lhes como foi o caminho até os três lugares não comentados.
Está bem...

Continua.


(Fernanda Lionetti)

quarta-feira, 21 de março de 2012

ㅤㅤ“Sim eu lhe perdôo”, foi à única coisa que eu queria e a única que eu não tive. Aliás, não tive muitas coisas. Você não me deu a chance de explicar e talvez amolecer a parte do seu coração que eu transformei em pedra. E fiquei sem voz quando recebi sua facada, não me cortando, cortando minhas palavras que nunca valem para nada. Pois, poderiam ter valido alguma coisa. E é sempre assim, acabam-se as conversas e pensamos no que dizer depois.

ㅤㅤSai pra lá, agora esquece, foi a ultima tentativa minha. E dói, dói muito saber que você não mexerá um dedo para fazer tudo ser como era. Escorreu as lagrimas tão suas e tão vivas pedindo por uma simples palavra que me erguesse para dizer tudo o que eu precisava. Você simplesmente falou tudo o que eu não esperava. Quando aceitei ser magoada eu queria xingamentos, palavras totalmente pesadas. E recebi palavras moles, cheias de mágoa dizendo o contrário do que sente. Fazendo o contrario do que quer. E me derrubou. E sempre aquela velha história.

ㅤㅤAliás, achei que nunca mais escreveria para você, mas estou. Infelizmente é o único jeito de tirar tudo o que me fez sentir nesses vinte minutos de conversa.
Por que o final tinha que ser tão doloroso? Eu sofrendo novamente por sempre fazer as escolhas erradas. Apesar de tudo, hoje eu sei que eu te amo até mais do que eu imaginaria que amava. Porque em vinte minutos você despertou e me fez colocar para fora tudo o que estava engasgado em relação a você. Mas somente por lágrimas. E agora até mesmo a fruta que mais acho ruim, foi doce. E eu quero mais e mais dela. Talvez você se sinta triste mais tarde, uma coisa é certa, me sinto agora, me sentirei depois e depois.

ㅤㅤSó mais uma coisa, estou com saudades de você. Você não é a pessoa que foi hoje. Diga a essa pessoa, que jogar o coração de alguém que já lhe deu a mão, é sem razão.

(Fernanda Lionetti)

segunda-feira, 12 de março de 2012

Outro eu meu continua seu

ㅤㅤComo um novelo que me sufoca, me prende, me esnoba. Quero você para mergulhar a cabeça no meu cabelo claro, para desenrolar o enrolado para fazer de mim tua. Pertencendo a mim.
De olhos fechados o enxergo mais claro, ter você aqui do lado, num café um cafuné.
Você chega, constrói seu lar, cuida, e dura. Poderia durar a vida toda, pois nos equilibraríamos bem. Seria destrutivo, às vezes frágil, mas seria forte. Nossos olhares se entrelaçando em forma de lua na noite negra. Imagino-te, mesmo que depois inflame, mesmo que depois derrame, lágrimas de neve. Dôo, dôo porque amo cicatrizes que jamais poderão ser pele lisa novamente.

ㅤㅤAmor se outro recheio te encantar, se outro perfume te embriagar, se outra gargalhada quiser escutar… Que seja a minha, na minha segunda fase, no meu segundo eu.
Imagino-te agora, cantando suavemente canções de ninar para tua irmã… Imagino-te chupando sorvete, andando, estressado, com vergonha, abrindo um pacote de salgado. Ah; imagino-te tanto.
Colhe uma flor, com amor, para dar de presente a tua princesa. Que seja eu essa princesa. Que seja minha essa flor, que seja meu o teu amor. Que um dia teu lençol seja meu, que um dia possamos dividir a mesma cama. Sem ser em pensamentos constantes, e inconstantes, sendo de carne, de pele, de sangue, de real. Sendo animal.

ㅤㅤO que importa, é que você não vai embora, eu não permito que vá; não sem antes me dar tua vida em mãos. Eu te cuido, pode deixar. Arrepia a alma e rasga o peito pensar em um futuro sem você. Mas ta, posso agüentar ficar um pouco mais por aqui, contando os dias, que são poucos, esperando pelo momento em que virei teus pés tocar ao chão, na minha frente, ao meu lado. Deixe-me medindo detalhes, tentando descobrir nossos lares.

E a gente se equilibra
Pouca força
Pouca linha, pouca costura.ㅤㅤ
Mas se equilibra...


(Fernanda Lionetti)

sábado, 10 de março de 2012

Ininterrupta

Você que nem sabe que é o meu “você”
Fluía e fui dançando na tua e nossa sincronia;
Mergulhava sobre nuvens enquanto eu somente
Estava me levantando daquela cama cansativa
Para um novo café-da-manhã.

Depois de uma noite de danças, de amores
De risadas, de pensamentos fervorosos
Sucumbi mais uma vez e lá estava eu sem você
Recolhendo o jornal deixado na caixa de correio
Abrindo a porta da sacada para derramar água
Fresca a flores com cede.

Queria desvendar-me naquela manhã insegura
Mas as manhãs nunca me favorecem
Estava lendo então trechos
Procurando encaixar-me
Em cada palavra só.

Fui feita para um café a dois
Para um cappuccino a quatro
Para laranjada a seis
Para limonada a dez.

Para dormir as uma e vinte seis de um dia normal
Acordar cansada e com raiva de mim mesma
Por não ter dormido antes;
Rígida até comigo mesma
Menos com você.

Acontece que a torrada torrou
Que a água transbordou
Que o suco estragou
Que você se aquietou.

E sonhei que invés deu tu que estavas recolhendo
As flores mortas do jardim
Invés deu tu que estavas recolhendo as maçãs da
Árvore ‘verdim
Ora invés deu tu que estavas dando aos cavalos
Os capins;

Teu olhar sempre me foi suculento e gracioso
Majestosamente radiante.
Poderia fazer-me pensar ‘trocentas vezes.
E voltou para roça a cavalgar
Deixou-me sentada no sofá
Você como pode fazer-me esperar?

(Fernanda Lionetti)

Uma não reconquista perfeita

ㅤㅤComeçando um novo abismo no qual cairemos. Me desculpe, me perdoe, lhe imploro. Sou como rainha má vestida de branco e atingida por sangue. Sangue nosso. Estou cavando tua cova, mas a minha promete ser maior. Estou chorando tuas lágrimas e minhas, enquanto vejo-te derramar apenas as tuas. Meus dedos sob teus lábios e só sabes dizer: Não me olhe. Não me toque. Suma ou vá embora; enquanto insisto por um último beijo tenebroso. Com teu coração, meu coração despedaçado, esfoliado. E eu sei onde erramos e por que erramos.

ㅤㅤE a ferida dos nossos peitos deixam sinal da ruína, enquanto tentamos ser nós mesmos. Antes que pare com as batidas do meu coração, antes que vá contra o tempo. E eles então nos dão o passa-porte de ida. Não há volta. A carta sob a mesa inteiramente levada pelo vento. E eu tento com as mãos tremulas escrever-lhe outra. Não adiantou as proibições, nos perdemos de nós mesmos.

ㅤㅤTua voz exigindo explicações, teus berros querendo concertos, desejando somente a minha morte e não a tua. Você não morreu. Nem eu. Só nós. Só o nós. Isso te deixará mais forte no final, bem final. Lhe prometo. Não me venha a dizer que não há promessa no meu ser. Lhe prometo, meu doce. Eu só quero tua harmonia. Eu só quero sorrisos felizes de ti. Foi o jeito em que achei, em que me encaixei. Em que nós poderíamos sorrir juntos, contadores de poesias. De piadas. De atrapalhadas.

ㅤㅤAquela cama jamais desarrumada há de chorar. Começou pela ponta dos dedos, acabou pela ponta dos pés. O gosto do teu café jamais feito pra mim será guardado. O encontro nunca poderá ser reencontrado, nunca existira. Sempre foi mais verdade do que eu. Embora por anos tiver sido mentira tosca, fosca. Te renovaria por anos se fosse necessário (e é) mas eu lhe apodreceria com os olhos. Te levantaria a busca de nuvens comestíveis. Mas eu a transformarias em pó sujo e construtor de alergias. Te beijaria as costas nu e prometeria nunca mais prometer. E ceder a promessa a você.

(Fernanda Lionetti)