segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O bater do vento sob as rosas brancas

Zé, nunca gostei de coisas comuns..,do fácil, do recíproco. Olhe para a cachoeira imensa e perfeita Zé. Em toda tua volta existem rosas vermelhas, vasos lindos e deixados para trás como folhas a dançar tropeçando. Quero um acordo com o tempo, com o vento. Do tempo só quero que ele passe devagar, que ele saiba bailar; do vento só espero que não bata em meu rosto ao abrir a janela emperrada de meu quarto branco-esperança.
Se fosse escolher uma cor para teu corpo Zé, seria azul. Azul feito céu, azul feito calma, cama, azul fosco. Às rosas brancas encontradas conversando com meu abajur rose foi deixada por você? O vento a quebrava e a contorcia enquanto a pequena tentava acalmar. Um copo de água deixado no quanto a fazia babar; secar. Cuidei então, a fiz melhorar. Tão grandiosa, charmosa, coloquei-a na mesa mais importante da sala da estar. Ela ia morrendo, ia lutando, envelhecendo, queria seu velho lugar. Só em cima do abajur rose ela soube se tratar.

(Fernanda Lionetti)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Você não volta, sufoca

Esperando o telefone tocar. Por quê? Se não quero atender, se não fui atender, não mexi os braços fingi esquecer. Mas deu saudade da sua voz mesmo com tom de ironia, com a garganta seca. Iria lhe oferecer água para dar uma leve molhada e um gosto mais amável, uma escuta melhor para meus ouvidos. Mas eu gosto do natural seu. Do seu “obrigado viu” quando queria mesmo me xingar por não atender a semana inteirinha. Eu não atendi e não foi por mal, realmente não sabia o que dizer; alô? Alô é muito clichê, chegar rapidamente num assunto? Perguntar se está bem? Eu não conseguiria ouvir um estou mal como resposta. Me sinto maligna a pior das piores e ainda escuto que você realmente não deveria ligar. Talvez não ligue, talvez queira só fazer teu nome aparecer pela telinha me fazendo ingerir sem ao menos mastigar qualquer coisa que coloque a boca.

Três mordidas e está pronto pra engolir. Duro e sem caldo de sabor. Podia aparecer aqui em casa qualquer dia para desamarrar meu tênis duas vezes maior que meu pé. Você, querido, me deixa de pernas pro ar. De cabelos ao chão. De ponta cabeça. Será que tenho ponta? Ponto final? Talvez não tenha. Esqueço tanto de tudo e não me esqueci de você. Controlo-me tanto para não deixar escapar por barreiras um: por favor, puxe assunto, quero saber de você. Será que quer saber de mim também? Ao menos uma pergunta simples que me arranque sorrisos bobos e traiçoeiros. Na noite passada só me fez morrer a cada palavra amarga que soltava em meio de meus carinhos mal sucedidos. Não o vejo mais em nosso dia-a-dia e se soubesse o quanto sinto falta disto. E daquilo. E demais aquilo outro que sabes. O coração dispara um pouquinho ao ler teu primeiro nome limpo, pequeno, fofo, tão meu. Rima com algo de desamarrar cadarços. Desamarrar laços perfeitos. Desbotar cores fortes. Será que vai aceitar um pobre convite humilde de uma garota com rosto mimoso? Com olhos inchados e transbordantes por lágrimas coloridas de desgostos. Reclamona e impaciente. Será que atura? Que consegue? Que se entrega para mim que pouco sei me cuidar?

Só tento liquidar espinhos e me faço de grosseira. Se pudesse olhar para dentro de meu peito só veria explicações satisfatórias as quais jamais lhe diria. Neguei-te, te nego às vezes. Mas me entregaria facilmente com qualquer simples verso no qual me sinta segura. Às feridas são em grande porcentagem, mas eu as adoro. Combinam com os porcentos de coisas confusas e outros que me faço. Será que existe um carinho em meios roda muinhos? A resposta para ambos seria sim. Mas cadê? É fácil de achá-lo ou são tão perdido feito nós? Não cabe a nós sermos cristalinos. Gostamos de vidros embaçados e dúvidas venenosas. Não cabe a nós sermos um casal apaixonado, tem dê ser amantes revoltados. Quaisquer que seja a oportunidade para um caminho de perfeição nossa, perderíamos, porque a perfeição não se encaixa, não cabe e não entra, tão desfocada que não chega nem perto é acenar pelo retrovisor e o sinal verde grita para seguirmos. E seguimos.

(Fernanda Lionetti)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Complicados demais para uma vida normal

Faremos parte dum casal errado. É como uma noiva de vermelho e um noivo de verde-limão. É como enquanto entro trocar Rock à música de sempre. É como os estranhos. Somos estranhos. E talvez isso, me faz te amar tanto e nos amarmos tanto. O diferente, o radical, o feio para noventa por cento e o bonito para nove por cento. E um por cento de sensacional para nos mesmos. E nossos mimos. Estranhos. Podemos dizer a gente pode porque sim, a gente pode. Porque num discurso de poesia romântica falaríamos de boca cheia, cuspindo literalmente o pão de queijo.
"O amor é complicado e caralho, a gente se fode.
A gente se entope de sangue quente de nós mesmos e continuamos vivos por sangue gelado!
A gente é estranho, mas a gente é a gente porra. E não importa.
Amor tem, sendo assim, não precisaríamos de amor."
E nos engasgaríamos, porque nós, nós somos complicados, procuramos por carros voadores enquanto encomendam jatinho particular.
É estranho ser a gente, cara, mas a gente consegue. É só continuar sendo a-gente.

(Fernanda Lionetti)

Amor existente

E portas abrindo e muros subindo, oportunidades vindo e saindo. Quer um copo de vinho? Senta aqui do meu lado, vamos bater um papinho. Ora, eu sei; não suporta a dor que te põe pra fora até do teu lar. Quando pensas que está perfeito um deslize acontece. Mas ta tudo perfeito do modo existente é que a perfeição não existe, o que existe é isso aí que tu vê pela tevê, que tu escuta na rádio. É esses cortes que a música calma leva. E com calma se ajeita de novo, do modo mundo real. Não gosta de coisa fácil? Nem eu. Mas não suporto o difícil demais. E meio termo, ah, desgosto total. Pressão demais. Nem sei o que gosto, sei do que não gosto quer saber? Não queira, isso não terminaria hoje, nem amanhã, nem depois... Não terminaria. Não gosto de muitas coisas. E gosto, gosto muito, de poucas que só sei depois que admito a mim mesma o gostar que ignorei. E nem todas essas poucas, nem mesmo essas pouquíssimas são dignas de meu entregar. Não me entrego. Não tão cedo. Só depois de anos, uns, onze! Prometo que vale a pena no final, serei tua no total. Mas não espere porque valerá à pena somente. E sim, porque valerá muito a pena. Para mim e para você, porque o vinho velho, vira vinho Francês nos nossos lábios perfumados de amor.

(Fernanda Lionetti)

domingo, 4 de dezembro de 2011

Passa depressa

Tenta obedecer tua vontade de silêncio, tampa os ouvidos brutamente para romper os gritos do coração rabugento. E o escuta pelos ouvidos. Percebe que está viva e talvez seja um sonho, num sonho o qual ainda se encontra viva em sua cama a pensar. Observa o dia, o mês... O ano, que esta prestes a acabar. Não aproveitou muito, mas o que aproveitou foi pra marcar. E está tão próximo do fim, mas um fim, porém este chega a agradar. Cinco anos passa rápido, nem gosto de pensar, que há cinco anos vou ter vinte já ‘taria a trabalhar. Só pode ser brincadeira como tudo passa rápido, mas deixa de besteira to crescendo, quê eu faço? Meu pé não é mais vinte já passou dos trinta e três, eu olho pra janela e me assusto com a casa da vizinha de número três. Até a rua onde moro daqui cinco anos vou mudar, morando sozinha somente eu a me atarefar. Sem comida de mãe, pois então devo aprender a cozinhar. Tem um tempo ainda mais quase nem louça direito sei lavar. A preguiça consome e estou crescendo, nem da pra acreditar. Como será meu marido, como serão meus filhos? Não da pra me habituar. E o ano acabando, as mudanças começando, os chapéus esquentando e nem direito sei sambar. Daqui um pouco crio meus filhos, e o que vou ensinar? Se tiver uma menina e se chamar Clarinha, só ovo vou fritar. Mas se for menininha, muito sofrerá tadinha, vou ter que bem cuidar. A receita de bolo, a torta, e gosto tudo a rechear.

To crescendo e pensando só no que vou me formar. Será que vou ganhar muito dinheiro? Pra no shopping ir gastar... Às bobagens comuns, que não é fácil concretizar. Queria crescer menos depressa. Sei lá, passar dois anos com o mesmo número de idade, seria mais fácil se acostumar. Mas idade enjoa e velhice desgasta, não gosto de pensar. Mas eu cresço tão rápido, nem sei o que faço pra me aliviar. Talvez dê tudo certo e depois eu confesso o que eu vou virar. Só vou aproveitar esses anos de adolescência e muito estudar. Já que tive boa infância não vou difamar o resto pra vida se transformar. Que tudo valha a pela, que tudo seja doce e que nada engorde. Só o amor.

(Fernanda Lionetti)

sábado, 3 de dezembro de 2011

Casal errante é um pouco assaltante

Quando é que vou me perfumar com teu cheiro? Quando é que vou colocar tua bermuda? Quando é que vou vestir teu blusão azul-bebê que é mais meu que teu? Quando é que vou receber um presente do “dia do nada” só para ver o quanto sou amada? Quando é, e quando é que vou acordar com beijos molhados de amor pelo garoto encantador? Quando é que vou dizer “quando é” e vai aparecer com um buquê de rosas brancas e vermelhas nas pontas respondendo “agora é”. Menino, quando é? Quando é que vai me encher de abraços no calor só para grudarmos? Quando é que em pleno dia geloso irá me jogar bexigas d’água? Eu não vou odiar. Nem amar. Mas vou adorar, porque chuparia sorvetes com a garganta inflamada, pisaria em cacos de pés descalços, quebraria a perna de propósito, pularia da ponte quando embaixo forem pedras. Debocharia do mar a espera de uma onda que me cobrisse e seria comida de tubarões.

Entraria de emo numa festa rock and roll. Escreveria um livro de gírias feitas por mim, com significados que nem mesma me lembro. E por você eu nem seria eu. Passaria dias sem comer após ler no jornal que o ser humano pode ficar até setenta dias sem comer. Ficaria doente, trabalharia como chorosa em enterro de estranhos. Cantaria na vontade de quebrar copos e fazer com que doessem os ouvidos. Seria má. Como uma novela de vilãos. Quer errar comigo? Vamos ser errados. Derrubar tudo do avesso, fazer com que gostem da complicação e tornar pessoas chatas em pessoas loucas. Vamos constranger entreter, até remexer. Desenterrar uma música favorita e fazer virar sucesso em nossa própria língua. Aceitar as coisas como elas são para que possamos ser aceitos como somos. Loucos e vezes patéticos, sem rotina. Café da manhã meio dia e almoço seis horas. Jantar meia noite. E lanchinho pós jantar as quatro da manhã.

Quero ser rebelde, seja comigo. Descubra um conto de história boa e escrita má. Vamos mudar e dar de presente para o(a) escritor(a). E assim, ela aprenderá a conquistar leitores. Vamos somente ler coisas ruins? Vamos nos ler então? Porque somos ruins, há de concordar. Porque somos jovens atrevidos. Que derruba vinho em vestido branco de propósito. Apenas para a decoradora ficar mais criativa com o erro alheio. Ei quero dançar como Michael Jackson. Mas dentro dum Cross Fox. Menino não sou como às demais. Fofa e educada sempre. Correta. Só em momentos necessários. Falo palavrão quando fico nervosa e sou de ponta cabeça. Pouca estrutura e estressada, muito incorreta. Mas eu quero você, desse jeito todo meu. Mas eu quero você de um jeito todo meu. Mas eu me entrego à você, de um jeito inteiro seu. Basta ser como sempre foi, como nos conhecemos menino.

Em plena festa à fantasia, largou a princesinha e foi dançar comigo vestida de assaltante, ainda jogou a piada de que queria que eu lhe assaltasse. E assaltei, mas também me assaltou. E assaltado apaixonados dum jeito só nosso ainda somos vivos. Ainda não houve briga. Ainda não houve desentendimento, porque você quando erra; erro também e ficamos quites. De um jeito complicado, que só nós entendemos. Não ‘dianta ‘cê entender leitor, quase nem mesmo nós entendemos. Mas d’uma coisa a gente sabe. Vamos errar até a blusa rasgar, até o chifre quebrar, até a lama secar. Até o mundo acabar...?

(Fernanda Lionetti)

O amor nunca foi tudo

Quase inteira, tornou-se enfermeira.
Quis cuidar de alguém, que a chamasse de meu bem.
Conheceu alguém, em pleno vai-e-vem.
E ele veio, como foi. Embora todo o cuidado da jovem enfermeira;
Foi.

Um quase adeus estava escrito na testa dos demais.
E foi demais...

A jovem não conseguia dizer “oi” nem menos para tua avó que lhe entregava chá de ervas frescas.
O má jovem a fitou depressa segurando belas mãos de uma adorável senhora.
E um bilhete lhe deixou na porta: Desculpe-me ter ido embora, como um bom enfermeiro tive de cuidar de minha avó. Que estava prestes a falecer. E teu desejo mais saboroso era que me cassasse com minha prima. E casei. E hoje de preto estou a caminho de teu enterro. Ela morreu, mas vive em nós. E como boa enfermeira. Peço-te para que possa cuidar de minha mãe ao meu lado. Estou prestes a morrer também. Câncer. Cân-cei.

(Fernanda Lionetti)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Tijolo em Tijolo

De tijolo em tijolo construindo minha casa, nossa casa. Mas tem uns que o cimento não deixa grudar, e cai, e refaz, e se joga. E não fica. Mas na hora certa fica. E depois implica. Parece eu e você. Dois tijolos que cimento algum consegue juntar. E duros, mas frágeis a tamanha altura. Estamos no alto. Mas sempre caímos; às vezes consertados, mas uma hora substituídos. Você se desfaz e me refaz, mas desfeito sou também. Não adianta tirar de ti e grudar em mim, fica oco e invisível aqui, só por saber que precisas como eu. Sua felicidade divides comigo, teus presentes e prêmios. Por que não acrescentar nesse pacote teu nosso sua imensa dor? Sou capaz de transformá-la em amor. Deixa a dor, vem amor.

Deixa-me fazer assim? Você radiante, vestido socialmente para começar os melhores dias de nossas vidas. Mas nisso diz “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença”. Não pode ser tão egoísta assim a ponto de não dar nem um cadim da tua tristeza para mim... Não pode ser tão grudento de não me dar nem um tiquim da tua doença. Eu quero, eu aceito, eu as-espero. Quero curá-las, quero você como eu. Necessitada de lágrimas ruins, porque as boas, também enjoam.

Você me conduz a brisa do mar com os pingos da chuva em plenos beijos apaixonados. E então um pequeno devaneio aparece nos empurrando para as profundezas escuras e obscenas. E você se entrega, digo que até mais fácil quando se é para entregar ao amor. E não luta, e não debate, e não tenta. E eu só lutando contra o perigo que corremos não dá. Não vai, não venceremos. Procuras por um último beijo, eu, por um dos mais inesquecíveis e amedrontados. Você desiste fácil. Mas prometo não desistir fácil do teu desistir rápido. E te grudo contra o peito para que não desista fácil da correria que é esta vida meu amado. Da correnteza que se desfaz e refaz feito mesa portátil. Não espero ser guerreira e heroína, sou da guerra e da justiça. Pelo bem de ambos, e principalmente teu e meu. Meu só um cadim, ‘ocê entende?

Não vou chorar quando se tornar difícil e sim quando precisar limpar os olhos. Para o difícil existem beijos, abraços, cafunés, cafés, paginas em brancos, tintas e pena de ganso mal amado para nos amarmos.
Não sei traduzir tudo que teu olhar diz, confesso. Mas teus lábios me contam tudo (ou quase tudo) creio. E nós. E a gente, se completa entende? E os outros cochicham sobre nossa história confusa aos casais necessitados de um remédio harmonizado. E quase sempre fomos flechas de coração quando não queríamos ser nem somente flechas, nem corações. Fomos os dois juntos. Então, vamos ser juntos? Mas ainda, mas que ontem, mas que ante-ontem, e depois de amanhã mais que amanhã e hoje.

Quero ser mais, quero ser só com você. Quero ser só por você. De tijolo em tijolo construindo nossa casa, podemos ser. Podemos fazer ser. Enfrento até rodamoinhos pra ver ‘ocê. Nem desistir nem tentar? Não. Porque agora não é “tanto faz”. Agora é faz ou desfaz. E eu quero fazer, com você. Exatamente tudo acontecer. Até flores no jardim, florescer.

Eu quero
Com você
Plantar escadas de papel
Pintar o céu de cor de mel
Dançarinas de pastel
Canções maneável
Fazer tudo à el,
Porque hoje entro de vél
Para esperar por él-e.

(Fernanda Lionetti)