sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Você não volta, sufoca

Esperando o telefone tocar. Por quê? Se não quero atender, se não fui atender, não mexi os braços fingi esquecer. Mas deu saudade da sua voz mesmo com tom de ironia, com a garganta seca. Iria lhe oferecer água para dar uma leve molhada e um gosto mais amável, uma escuta melhor para meus ouvidos. Mas eu gosto do natural seu. Do seu “obrigado viu” quando queria mesmo me xingar por não atender a semana inteirinha. Eu não atendi e não foi por mal, realmente não sabia o que dizer; alô? Alô é muito clichê, chegar rapidamente num assunto? Perguntar se está bem? Eu não conseguiria ouvir um estou mal como resposta. Me sinto maligna a pior das piores e ainda escuto que você realmente não deveria ligar. Talvez não ligue, talvez queira só fazer teu nome aparecer pela telinha me fazendo ingerir sem ao menos mastigar qualquer coisa que coloque a boca.

Três mordidas e está pronto pra engolir. Duro e sem caldo de sabor. Podia aparecer aqui em casa qualquer dia para desamarrar meu tênis duas vezes maior que meu pé. Você, querido, me deixa de pernas pro ar. De cabelos ao chão. De ponta cabeça. Será que tenho ponta? Ponto final? Talvez não tenha. Esqueço tanto de tudo e não me esqueci de você. Controlo-me tanto para não deixar escapar por barreiras um: por favor, puxe assunto, quero saber de você. Será que quer saber de mim também? Ao menos uma pergunta simples que me arranque sorrisos bobos e traiçoeiros. Na noite passada só me fez morrer a cada palavra amarga que soltava em meio de meus carinhos mal sucedidos. Não o vejo mais em nosso dia-a-dia e se soubesse o quanto sinto falta disto. E daquilo. E demais aquilo outro que sabes. O coração dispara um pouquinho ao ler teu primeiro nome limpo, pequeno, fofo, tão meu. Rima com algo de desamarrar cadarços. Desamarrar laços perfeitos. Desbotar cores fortes. Será que vai aceitar um pobre convite humilde de uma garota com rosto mimoso? Com olhos inchados e transbordantes por lágrimas coloridas de desgostos. Reclamona e impaciente. Será que atura? Que consegue? Que se entrega para mim que pouco sei me cuidar?

Só tento liquidar espinhos e me faço de grosseira. Se pudesse olhar para dentro de meu peito só veria explicações satisfatórias as quais jamais lhe diria. Neguei-te, te nego às vezes. Mas me entregaria facilmente com qualquer simples verso no qual me sinta segura. Às feridas são em grande porcentagem, mas eu as adoro. Combinam com os porcentos de coisas confusas e outros que me faço. Será que existe um carinho em meios roda muinhos? A resposta para ambos seria sim. Mas cadê? É fácil de achá-lo ou são tão perdido feito nós? Não cabe a nós sermos cristalinos. Gostamos de vidros embaçados e dúvidas venenosas. Não cabe a nós sermos um casal apaixonado, tem dê ser amantes revoltados. Quaisquer que seja a oportunidade para um caminho de perfeição nossa, perderíamos, porque a perfeição não se encaixa, não cabe e não entra, tão desfocada que não chega nem perto é acenar pelo retrovisor e o sinal verde grita para seguirmos. E seguimos.

(Fernanda Lionetti)

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