quarta-feira, 21 de março de 2012

ㅤㅤ“Sim eu lhe perdôo”, foi à única coisa que eu queria e a única que eu não tive. Aliás, não tive muitas coisas. Você não me deu a chance de explicar e talvez amolecer a parte do seu coração que eu transformei em pedra. E fiquei sem voz quando recebi sua facada, não me cortando, cortando minhas palavras que nunca valem para nada. Pois, poderiam ter valido alguma coisa. E é sempre assim, acabam-se as conversas e pensamos no que dizer depois.

ㅤㅤSai pra lá, agora esquece, foi a ultima tentativa minha. E dói, dói muito saber que você não mexerá um dedo para fazer tudo ser como era. Escorreu as lagrimas tão suas e tão vivas pedindo por uma simples palavra que me erguesse para dizer tudo o que eu precisava. Você simplesmente falou tudo o que eu não esperava. Quando aceitei ser magoada eu queria xingamentos, palavras totalmente pesadas. E recebi palavras moles, cheias de mágoa dizendo o contrário do que sente. Fazendo o contrario do que quer. E me derrubou. E sempre aquela velha história.

ㅤㅤAliás, achei que nunca mais escreveria para você, mas estou. Infelizmente é o único jeito de tirar tudo o que me fez sentir nesses vinte minutos de conversa.
Por que o final tinha que ser tão doloroso? Eu sofrendo novamente por sempre fazer as escolhas erradas. Apesar de tudo, hoje eu sei que eu te amo até mais do que eu imaginaria que amava. Porque em vinte minutos você despertou e me fez colocar para fora tudo o que estava engasgado em relação a você. Mas somente por lágrimas. E agora até mesmo a fruta que mais acho ruim, foi doce. E eu quero mais e mais dela. Talvez você se sinta triste mais tarde, uma coisa é certa, me sinto agora, me sentirei depois e depois.

ㅤㅤSó mais uma coisa, estou com saudades de você. Você não é a pessoa que foi hoje. Diga a essa pessoa, que jogar o coração de alguém que já lhe deu a mão, é sem razão.

(Fernanda Lionetti)

segunda-feira, 12 de março de 2012

Outro eu meu continua seu

ㅤㅤComo um novelo que me sufoca, me prende, me esnoba. Quero você para mergulhar a cabeça no meu cabelo claro, para desenrolar o enrolado para fazer de mim tua. Pertencendo a mim.
De olhos fechados o enxergo mais claro, ter você aqui do lado, num café um cafuné.
Você chega, constrói seu lar, cuida, e dura. Poderia durar a vida toda, pois nos equilibraríamos bem. Seria destrutivo, às vezes frágil, mas seria forte. Nossos olhares se entrelaçando em forma de lua na noite negra. Imagino-te, mesmo que depois inflame, mesmo que depois derrame, lágrimas de neve. Dôo, dôo porque amo cicatrizes que jamais poderão ser pele lisa novamente.

ㅤㅤAmor se outro recheio te encantar, se outro perfume te embriagar, se outra gargalhada quiser escutar… Que seja a minha, na minha segunda fase, no meu segundo eu.
Imagino-te agora, cantando suavemente canções de ninar para tua irmã… Imagino-te chupando sorvete, andando, estressado, com vergonha, abrindo um pacote de salgado. Ah; imagino-te tanto.
Colhe uma flor, com amor, para dar de presente a tua princesa. Que seja eu essa princesa. Que seja minha essa flor, que seja meu o teu amor. Que um dia teu lençol seja meu, que um dia possamos dividir a mesma cama. Sem ser em pensamentos constantes, e inconstantes, sendo de carne, de pele, de sangue, de real. Sendo animal.

ㅤㅤO que importa, é que você não vai embora, eu não permito que vá; não sem antes me dar tua vida em mãos. Eu te cuido, pode deixar. Arrepia a alma e rasga o peito pensar em um futuro sem você. Mas ta, posso agüentar ficar um pouco mais por aqui, contando os dias, que são poucos, esperando pelo momento em que virei teus pés tocar ao chão, na minha frente, ao meu lado. Deixe-me medindo detalhes, tentando descobrir nossos lares.

E a gente se equilibra
Pouca força
Pouca linha, pouca costura.ㅤㅤ
Mas se equilibra...


(Fernanda Lionetti)

sábado, 10 de março de 2012

Ininterrupta

Você que nem sabe que é o meu “você”
Fluía e fui dançando na tua e nossa sincronia;
Mergulhava sobre nuvens enquanto eu somente
Estava me levantando daquela cama cansativa
Para um novo café-da-manhã.

Depois de uma noite de danças, de amores
De risadas, de pensamentos fervorosos
Sucumbi mais uma vez e lá estava eu sem você
Recolhendo o jornal deixado na caixa de correio
Abrindo a porta da sacada para derramar água
Fresca a flores com cede.

Queria desvendar-me naquela manhã insegura
Mas as manhãs nunca me favorecem
Estava lendo então trechos
Procurando encaixar-me
Em cada palavra só.

Fui feita para um café a dois
Para um cappuccino a quatro
Para laranjada a seis
Para limonada a dez.

Para dormir as uma e vinte seis de um dia normal
Acordar cansada e com raiva de mim mesma
Por não ter dormido antes;
Rígida até comigo mesma
Menos com você.

Acontece que a torrada torrou
Que a água transbordou
Que o suco estragou
Que você se aquietou.

E sonhei que invés deu tu que estavas recolhendo
As flores mortas do jardim
Invés deu tu que estavas recolhendo as maçãs da
Árvore ‘verdim
Ora invés deu tu que estavas dando aos cavalos
Os capins;

Teu olhar sempre me foi suculento e gracioso
Majestosamente radiante.
Poderia fazer-me pensar ‘trocentas vezes.
E voltou para roça a cavalgar
Deixou-me sentada no sofá
Você como pode fazer-me esperar?

(Fernanda Lionetti)

Uma não reconquista perfeita

ㅤㅤComeçando um novo abismo no qual cairemos. Me desculpe, me perdoe, lhe imploro. Sou como rainha má vestida de branco e atingida por sangue. Sangue nosso. Estou cavando tua cova, mas a minha promete ser maior. Estou chorando tuas lágrimas e minhas, enquanto vejo-te derramar apenas as tuas. Meus dedos sob teus lábios e só sabes dizer: Não me olhe. Não me toque. Suma ou vá embora; enquanto insisto por um último beijo tenebroso. Com teu coração, meu coração despedaçado, esfoliado. E eu sei onde erramos e por que erramos.

ㅤㅤE a ferida dos nossos peitos deixam sinal da ruína, enquanto tentamos ser nós mesmos. Antes que pare com as batidas do meu coração, antes que vá contra o tempo. E eles então nos dão o passa-porte de ida. Não há volta. A carta sob a mesa inteiramente levada pelo vento. E eu tento com as mãos tremulas escrever-lhe outra. Não adiantou as proibições, nos perdemos de nós mesmos.

ㅤㅤTua voz exigindo explicações, teus berros querendo concertos, desejando somente a minha morte e não a tua. Você não morreu. Nem eu. Só nós. Só o nós. Isso te deixará mais forte no final, bem final. Lhe prometo. Não me venha a dizer que não há promessa no meu ser. Lhe prometo, meu doce. Eu só quero tua harmonia. Eu só quero sorrisos felizes de ti. Foi o jeito em que achei, em que me encaixei. Em que nós poderíamos sorrir juntos, contadores de poesias. De piadas. De atrapalhadas.

ㅤㅤAquela cama jamais desarrumada há de chorar. Começou pela ponta dos dedos, acabou pela ponta dos pés. O gosto do teu café jamais feito pra mim será guardado. O encontro nunca poderá ser reencontrado, nunca existira. Sempre foi mais verdade do que eu. Embora por anos tiver sido mentira tosca, fosca. Te renovaria por anos se fosse necessário (e é) mas eu lhe apodreceria com os olhos. Te levantaria a busca de nuvens comestíveis. Mas eu a transformarias em pó sujo e construtor de alergias. Te beijaria as costas nu e prometeria nunca mais prometer. E ceder a promessa a você.

(Fernanda Lionetti)

...

ㅤㅤDe pés calejados, cansados, tento bailar por aí. Sem encontrar abrigo fresco. Morna e carregável. Jogando para escanteio o peso de meu coração quente e palpitante. E então se torna superável. E então me torno carga fácil. Não encosto meus joelhos ao chão, meus cotovelos não estão mais ralados. Sinto-me passarinho livre. O vento fresco rodeando-me toda trazendo prazer e aconchego. Porém… Encontro vestígios de desejos não realizados no fundo dos olhos e no frio do coração.

ㅤㅤCarrego no ombro saudades e vontades, mas é fácil lhe dar com isso quando se tem pão, manteiga, muita cafeína. E você… Não sinto cheiro enjoativo no meu perfume, não vejo roupas amareladas de velhice, a casa não está tão empoeirada e as xícaras estão bem detalhadas. Tudo parece bom, me tornando forte e incrédula. Levantando-me todos os dias e tomando café da manhã com mesa bagunçada, com uvas verdes e roxas misturadas… Ainda sou bagunça, mas melhor ser bagunça a ser nada.

(Fernanda Lionetti)

Meu caro amado, és complicado

ㅤㅤSeus olhos são azuis, me perco neste céu. Seus lábios são dourados, parecem pão-de-mel. A escala é cheia de curvas recheada de pequenas facas cortantes. Você deve ir descalço para ser um bom amante. Salvar uma vida não é tão fácil quanto alvejante. Pular nu no riacho sem saber nadar é a espera que alguém vá te salvar, e em pleno contato com teu corpo se apaixonar. A chuva destrói a torre de papel que fez beira-mar, e até a árvore de Natal para uma seia de jantar.

ㅤㅤChamo-lhe para deitar em redes rasgadas e tomar café frio de ontem em xícara esgaçada, enquanto nos delírios dum amanhã; precisamos namorar. Bagunço tua blusa retirada das mãos de tua mãe que se pôs a passar, só pra você passear bagunçado e ninguém te olhar. Que bobagem a minha “ninguém te olhar”, todo mundo te olha, até em pleno luar. Luar lindo de vibrar e todo mundo a te olhar. A churrasqueira da esquina lhe da churrascos sem cobrar, a padeira lhe da o pão caprichado do café-da-manhã, a dona do restaurante lhe da o almoço e de cortesia da cortesia o jantar.

ㅤㅤVocê comprime meu desgasto. Você é o bom chefe da cidade que namora a menina “por bondade”, bondade e saudade de quem chora de verdade. Numa manhã de terça-feira me olha apetitoso querendo meu eu todo. Você é sal misturado com açúcar. É gostoso e é a cura. Não enjoa não se é dispensável. É pequeno miado em plena latidão. Faz-me de tonta em frente à porta de tua casa; e aí sinto mel caindo em meu cabelo que depois de duas horas no cabeleireiro estava pronto. Vem manhoso dizendo que me adora, até debulhar em mim tua garrafinha de água, e borrar a maquiagem totalmente trabalhada. Que pirraça! Que pirraçada esse menino é. Dizendo em voz silenciosa, que se não fizesse esforços não ouviria: Prefiro-te assim, natural e bagunçada, desorientada e imperfeita a seu ver. Mas perfeita aos meus olhos. Mas perfeita aos olhos de quem um dia ao menos teve um pouco do teu querer.

ㅤㅤPirracento, estranho e im(perfeito) é meu amado jovem. A lareira não queima mais que nós dois sentados naquela poltrona que se abre quando nossos corações se entregam. Não há fogo mais quente que nós dois em pleno mês de Verão. Nossos chãos derretem e ficamos caindo num abismo perfumado. Têm seu cheiro, tem o meu. O Perfume que se junta quando nossos corpos pedem por mais. Você é gozado. E Eu gosto assim. Em noites de verão ficamos assim, como ontem a noite, nunca chega num fim.

(Fernanda Lionetti)
ㅤㅤEmbaralho-me, despedaço-me, esmigalho-me, por você, como se tu fosses meu abrigo mais aconchegante, meu castelo mais radiante, minha confusão mais brilhante… Me seguro a você, como se pudesse me salvar, como se fosses meu remédio, levemente nossas mãos vão se desgrudando, se descolando, como se cola alguma pudesse fazer grudar, ficar. Um grande espaço ainda não preenchido faz confusão. E sinto-me vazia.

ㅤㅤAmor, há sorrisos meio a tantos escombros. Há presentes por detrás dos cômodos. Há suavidade no tombo dos ombros. E promessas vão e vem. E continuo sem você. Sem te ter. Ver.

ㅤㅤMas, há, há finais felizes por detrás disto tudo engolindo o escuro… Há ritmo seguro balançando sem esturros.

(Fernanda Lionetti)
Está apaixonada?
ㅤㅤSou paixão-nada.
Paixão nada?
ㅤㅤㅤㅤNada paixão!
Nada o que?
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤNão, nada não.
Sim nado sim... Golfinho, sereia, borboleta. Até tubarão. E você?
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤEu? Nada.

(Fernanda Lionetti)

sexta-feira, 9 de março de 2012

Tanto faz outra vez

ㅤㅤVocê chega e tudo que espera é um beijo doce em seu rosto, um olhar adocicado. Mas parece que ele pensa que você pensa que os dois são separados. Nem olhar, nem beijinho ele nem lhe deu carinho.
Mesmo assim chegou de mancinho e logo esbarrou seus leves bracinhos, nos dele, que por mais estranho que seja, são leves também. E se olham e se imploram, um pelo outro, mas isso é tosco, não querem se apaixonar denovo. Sentem medo, pedem socorro.
ㅤㅤAliás, quem quer bolo?
ㅤㅤ- Qual sabor?
ㅤㅤ- Chocolate.
ㅤㅤ- Aceito.

(Fernanda Lionetti)