sábado, 10 de março de 2012

Meu caro amado, és complicado

ㅤㅤSeus olhos são azuis, me perco neste céu. Seus lábios são dourados, parecem pão-de-mel. A escala é cheia de curvas recheada de pequenas facas cortantes. Você deve ir descalço para ser um bom amante. Salvar uma vida não é tão fácil quanto alvejante. Pular nu no riacho sem saber nadar é a espera que alguém vá te salvar, e em pleno contato com teu corpo se apaixonar. A chuva destrói a torre de papel que fez beira-mar, e até a árvore de Natal para uma seia de jantar.

ㅤㅤChamo-lhe para deitar em redes rasgadas e tomar café frio de ontem em xícara esgaçada, enquanto nos delírios dum amanhã; precisamos namorar. Bagunço tua blusa retirada das mãos de tua mãe que se pôs a passar, só pra você passear bagunçado e ninguém te olhar. Que bobagem a minha “ninguém te olhar”, todo mundo te olha, até em pleno luar. Luar lindo de vibrar e todo mundo a te olhar. A churrasqueira da esquina lhe da churrascos sem cobrar, a padeira lhe da o pão caprichado do café-da-manhã, a dona do restaurante lhe da o almoço e de cortesia da cortesia o jantar.

ㅤㅤVocê comprime meu desgasto. Você é o bom chefe da cidade que namora a menina “por bondade”, bondade e saudade de quem chora de verdade. Numa manhã de terça-feira me olha apetitoso querendo meu eu todo. Você é sal misturado com açúcar. É gostoso e é a cura. Não enjoa não se é dispensável. É pequeno miado em plena latidão. Faz-me de tonta em frente à porta de tua casa; e aí sinto mel caindo em meu cabelo que depois de duas horas no cabeleireiro estava pronto. Vem manhoso dizendo que me adora, até debulhar em mim tua garrafinha de água, e borrar a maquiagem totalmente trabalhada. Que pirraça! Que pirraçada esse menino é. Dizendo em voz silenciosa, que se não fizesse esforços não ouviria: Prefiro-te assim, natural e bagunçada, desorientada e imperfeita a seu ver. Mas perfeita aos meus olhos. Mas perfeita aos olhos de quem um dia ao menos teve um pouco do teu querer.

ㅤㅤPirracento, estranho e im(perfeito) é meu amado jovem. A lareira não queima mais que nós dois sentados naquela poltrona que se abre quando nossos corações se entregam. Não há fogo mais quente que nós dois em pleno mês de Verão. Nossos chãos derretem e ficamos caindo num abismo perfumado. Têm seu cheiro, tem o meu. O Perfume que se junta quando nossos corpos pedem por mais. Você é gozado. E Eu gosto assim. Em noites de verão ficamos assim, como ontem a noite, nunca chega num fim.

(Fernanda Lionetti)

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