sábado, 3 de dezembro de 2011

Casal errante é um pouco assaltante

Quando é que vou me perfumar com teu cheiro? Quando é que vou colocar tua bermuda? Quando é que vou vestir teu blusão azul-bebê que é mais meu que teu? Quando é que vou receber um presente do “dia do nada” só para ver o quanto sou amada? Quando é, e quando é que vou acordar com beijos molhados de amor pelo garoto encantador? Quando é que vou dizer “quando é” e vai aparecer com um buquê de rosas brancas e vermelhas nas pontas respondendo “agora é”. Menino, quando é? Quando é que vai me encher de abraços no calor só para grudarmos? Quando é que em pleno dia geloso irá me jogar bexigas d’água? Eu não vou odiar. Nem amar. Mas vou adorar, porque chuparia sorvetes com a garganta inflamada, pisaria em cacos de pés descalços, quebraria a perna de propósito, pularia da ponte quando embaixo forem pedras. Debocharia do mar a espera de uma onda que me cobrisse e seria comida de tubarões.

Entraria de emo numa festa rock and roll. Escreveria um livro de gírias feitas por mim, com significados que nem mesma me lembro. E por você eu nem seria eu. Passaria dias sem comer após ler no jornal que o ser humano pode ficar até setenta dias sem comer. Ficaria doente, trabalharia como chorosa em enterro de estranhos. Cantaria na vontade de quebrar copos e fazer com que doessem os ouvidos. Seria má. Como uma novela de vilãos. Quer errar comigo? Vamos ser errados. Derrubar tudo do avesso, fazer com que gostem da complicação e tornar pessoas chatas em pessoas loucas. Vamos constranger entreter, até remexer. Desenterrar uma música favorita e fazer virar sucesso em nossa própria língua. Aceitar as coisas como elas são para que possamos ser aceitos como somos. Loucos e vezes patéticos, sem rotina. Café da manhã meio dia e almoço seis horas. Jantar meia noite. E lanchinho pós jantar as quatro da manhã.

Quero ser rebelde, seja comigo. Descubra um conto de história boa e escrita má. Vamos mudar e dar de presente para o(a) escritor(a). E assim, ela aprenderá a conquistar leitores. Vamos somente ler coisas ruins? Vamos nos ler então? Porque somos ruins, há de concordar. Porque somos jovens atrevidos. Que derruba vinho em vestido branco de propósito. Apenas para a decoradora ficar mais criativa com o erro alheio. Ei quero dançar como Michael Jackson. Mas dentro dum Cross Fox. Menino não sou como às demais. Fofa e educada sempre. Correta. Só em momentos necessários. Falo palavrão quando fico nervosa e sou de ponta cabeça. Pouca estrutura e estressada, muito incorreta. Mas eu quero você, desse jeito todo meu. Mas eu quero você de um jeito todo meu. Mas eu me entrego à você, de um jeito inteiro seu. Basta ser como sempre foi, como nos conhecemos menino.

Em plena festa à fantasia, largou a princesinha e foi dançar comigo vestida de assaltante, ainda jogou a piada de que queria que eu lhe assaltasse. E assaltei, mas também me assaltou. E assaltado apaixonados dum jeito só nosso ainda somos vivos. Ainda não houve briga. Ainda não houve desentendimento, porque você quando erra; erro também e ficamos quites. De um jeito complicado, que só nós entendemos. Não ‘dianta ‘cê entender leitor, quase nem mesmo nós entendemos. Mas d’uma coisa a gente sabe. Vamos errar até a blusa rasgar, até o chifre quebrar, até a lama secar. Até o mundo acabar...?

(Fernanda Lionetti)

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